Redes sociais: vilã, vítima, ou espelho da sociedade?

Aprendi, no curso de Letras, na disciplina de Teoria da Literatura, que o gênero literário do Romance, pode ser definido com um espelho do realismo temporal de uma sociedade, onde ele foi escrito. Esse conceito fica evidente se aplicado às novelas, que são um sucesso de audiência no Brasil.

©️2021 JACK ARTS

E com relação ao fenômeno das redes sociais, será que elas pode ser enquadradas nessa definição de ser um espelho temporal da sociedade? A reposta dependerá de qual geração você pertence, termo que é usado para definir os grupos de usuários dependendo de sua faixa etária. Crianças e jovens usam pouco, alguns detestam usar, sei pela experiência com os meus netos, que têm suas contas observadas pelos pais. Penso que os jovens, em geral, usam as redes sociais, em geral, por pura diversão. Para as gerações mais antigas, há uma certa resistência ao seu uso, por vezes, por falta de habilidade com a Internet e o ciberespaço. Mais essa resistência parece ter sido minimizada com o isolamento social resultante da pandemia. Mas é claro, que é preciso mencionar, que o uso da Internet, ainda é baixo, por parte de comunidades chamadas invisíveis, e, por conta da péssima infraestrutura de backbone — infraestrutura principal de distribuição do cabeamento e pontos de acesso no país — que existe no Brasil, desde há muito considerada colapsada, requerendo investimentos para sua melhoria. Uma delas é a esperada chegada da plataforma 5G de transmissão de dados, prevista para julho de 2022.

Para responder a pergunta, importa mencionar também, uma preocupação da comunidade global, em relação à hegemonia e monopólio de uma só empresa, tal como o Facebook, que também é proprietária do Instagram e do WhatsApp. Essa preocupação, em relação aos impactos na formação da cidadania e consciência social, é também uma constante noutras redes sociais, como o Twitter. Cito essas por que são as que uso, praticamente, deste o surgimento delas. Temos acompanhado constantes preocupações de governos de países desenvolvidos sobre esse monopólio e já fizeram adaptações em sua legislação para minimizar esse perigo. As redes sociais, como resposta ao que se chama de controle social, tem aprimorado sua políticas de privacidade e uso, constantemente.

Mas há outras redes sociais, como o Tik Tok, que além de severas críticas por parte dos pais, tem sobre si o manto da especulação de que possa ser um modo como países comunistas estão monitorando a vida de seu crescente número de usuários, na maioria jovens e até crianças. Alguns governos já mencionaram essa preocupação hegemônica e espiã, publicamente. tendo tomado medidas preventivas de restrição a esse aplicativo.

Se nos parece que com o advento das redes sociais, a privacidade dos usuários possa ter sido afetada, e, que elas usam nossa preferências para gerar algoritmos — ou seja, programas internos que, via inteligência artificial, registram padrões de preferências e cenários favoráveis de consumo — os quais poderão ser usados para alavancar propagandas e promoções direcionadas a públicos específicos de usuários. Tendências de preferência e consumo, que foram indevidamente mapeadas e usadas até para favorecer a eleição de candidatos em eleições de países democráticos, como os Estados Unidos da América e até no Brasil.

Sobram críticas de especialistas sobre o monopólio e o uso de dados pessoais no que tange a padrões, preferência e grupos de usuário. Entretanto, a pandemia, serviu para repensarmos o uso das redes sociais, como um recurso e ferramenta de marketing para difusão de pequenos negócios, e, para comunicação com os clientes. Esse é um uso de empoderamento e impacto socioeconômico, muito bem-vindo, e, cuja abrangência e utilidade, foram devidamente provados, durante a pane geral no sistemas do Facebook, que o deixou fora do ar por mais de 6 horas, ficando também fora do ar, o Instagram e o WhatsApp — que no Brasil é o App mais usado para comunicação entre usuários. Como observador, me parece que aqui, valeu aquele dito popular, de que por vezes, damos mais valor a certas coisas, quando as perdemos.

No Brasil, por outro lado, o mau uso das redes sociais, ficou evidente, no âmbito da política, diante das tais milícias digitais, ou, “gabinete do ódio” que usava perfis do Facebook, com páginas, de conteúdo político, para destilar ódio polarizado e fake news. Isso gerou um problema social tão grave, que atualmente virou um processo judiciário, na mais alta Corte, que está em andamento, no qual a maioria destes perfis, incluindo canais do YouTube, foram banidos das redes sociais, e seus autores estão sendo investigados e deverão ser julgados e condenados.

Então parece que voltamos ao ponto inicial do artigo: onde as redes sociais, podem não ser culpadas, nem tão pouco os empresários proprietários, e, todo um staff de profissionais, da mais alta qualificação, que as mantém funcionando o tempo todo. As redes sociais, poderiam também ser consideradas um espelho da dinâmica social do momento, de um locus social, ou de um nicho de usuários, seja qual for a área: política, entretenimento, cultural, curiosidades, religiosidade, espiritualidade, etc

Falando na minha experiência, desde 2012, tenho usado as redes sociais, de modo colaborativo, para cumprir, com humildade e em certa medida a missão cristã, dada pelo divino Mestre, Cristo Jesus, em sua ordem celestial do: “Ide!” (Lucas 10:3) Com esse senso de missão, gerencio meu perfil pessoal, 8 páginas e 3 grupos, no Facebook; 2 contas no Instagram, 2 no YouTube, e, 3 contas no Twitter. Minha maior página no Facebook, é a que aborda a espiritualidade, e minha prática pública da Ciência Cristã, ela tem mais de 5000 seguidores — embora que, por algum erro de algoritmo, o alcance de difusão dela, fica mais restrito aos meus amigos, algo que tenho refletido sobre se não seria o momento de excluir essa conta e criar uma nova, como solução de contorno!

A conclusão que podemos chegar é que é fácil imputar culpa aos recursos, ferramentas e facilidade que hoje a humanidade dispõe, para os usuários comunicarem-se e interagirem um com os outros. Entretanto, pouco se aborda ou considera sobre a questão da educação individual dos usuários. Há uma certa liberdade de expressão nas redes sociais. Mas o conceito mais básico de liberdade, que toda criança pode aprender na escola primária, é que nossa liberdade termina quando começa a do outro.

Considerando a tese aqui sugerida, de que as redes sociais sejam um espelho da sociedade que ela retrata, a pergunta é: como estaria nossa evolução social? Não deveríamos considerar a possibilidade de inserção da temática das redes sociais nos currículos das escolas e faculdades, para que haja uma troca de ideias, a partir da experiência pessoal dos alunos e sua reflexões em torno da utilidade de participar ou não de uma rede social!? Essas trocas de ideias e relações dialógicas, oxalá, são bem-vindas também no seio familiar nos lares, amigos e até nas Escolas Dominicais.

Crédito imagem: ©️2021 Jack Arts



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Publicado por Jackson Guterres

Sou um Cientista Cristão brasileiro atuando como Praticista da Ciência Cristã na cidade de Salvador, capital da Bahia, no Brasil.

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